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Ele pegou a farinha no armário, mas ela não sabia onde estava a batedeira. Ele faz uma piada machista qualquer, um comentário sobre a inversão de papéis na sociedade moderna, mas com aquele sorriso que só ela sabe decifrar, abre a despensa e traz o eletrodoméstico ainda semiusado. A batedeira mora na última prateleira, e divide o espaço com o microprocessador de alimentos, o forninho elétrico zero quilômetros e a panela wok. Todos seres complicados demais para o mercado de trabalho. A sanduicheira costumava viver por ali, até ter sido descoberta como uma das maiores invenções do mundo moderno, e acabou colega de quarto do grill elétrico e do liquidificador.
Voltando à cena na cozinha, ela com o pacote de farinha (a de trigo) na mão, e eles continuam rindo da piada. Ela abre o pacote e fica com alguns fios de cabelo cobertos com aquele pó branco. Parece comédia romântica, e de comédia romântica sim ela entende. E gosta tanto que é capaz de assar um bolo para transformar sua vida em enredo. Ele, no entanto, está mais interessado na comida. Por isso, mede meticulosamente as xícaras de farinha. Prova o açúcar para ter certeza de que não é sal. É ele que sabe onde está o chocolate do Padre. E que quebra os ovos em um copo separado para evitar um desastre de proporções catastróficas.
Ela observa e no máximo ajuda um pouco. A função de assistente de chefe é perfeita: ela pode aprender o passo a passo da receita, mas prefere que ele sempre esteja junto.
Ele explica como rodar a tigela enquanto bate a massa, ela observa atentamente o contorno musculoso do seu braço. Ele unta a assadeira, ela o abraça por trás e dá um beijo de leve no pescoço.
Ele pré-aquece o forno, ela já está em ponto de ebulição.
Textos, crônicas, artigos, rascunhos, ficção, milk shake de idéias. O Lado B do meu LP.
quinta-feira, 15 de março de 2007
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