Textos, crônicas, artigos, rascunhos, ficção, milk shake de idéias. O Lado B do meu LP.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Carta de amor

Meu amor,

Hoje, revirando e remexendo nos meus guardados, achei suas velhas cartas de amor. Ali, no fundo da caixa de papelão, entre fotos, cartões, revistas antigas e outras relíquias já esquecidas. Reli uma a uma, saboreando cada palavra, cada vírgula, cada intenção. Foi como me transportar a um tempo em que tudo era muito mais fácil e ao mesmo tempo tão mais complicado. Cada ausência, cada palavra não dita, cada telefonema encurtado, cada pequena dor se fazia sentir como uma chicotada. Que saudade dessa época e que alívio saber que ela não volta mais!

Por alguns minutos, tive uma vontadezinha de voltar no tempo e sentir de novo como é se apaixonar na adolescência. Como é precisar tanto de você, mas tanto, que até falta o ar! Mas depois passou. Adolescentes precisam tanto, mas tanto de tudo com mais ou menos a mesma intensidade: uma roupa, um CD, uma foto, um namorado. Eu hoje, passados tantos anos, continuo precisando de você como preciso de água. Mas só de você.

Suas cartas de amor eram longas e escritas em letra de forma. Parece a música da Ana Carolina, a diferença é que você não foi embora e por isso eu te amo ainda mais. Falavam dos nossos sentimentos da forma como você os percebia: confusos, misturados, indecifráveis, mas principalmente intensos! E por mais incrível que possa parecer, eram bem elaboradas, e sem aquele toque ridículo que as cartas de amor costumam conter. O ridículo ficava por minha conta naquela época, e tenho certeza que até hoje, apesar de ser muito orgulhosa para admitir.

Foi engraçado ver como a freqüência delas foi diminuindo aos poucos, até que simplesmente desapareceram. Não sei dizer em que ano ou qual foi o derradeiro assunto. E nem sei, com muita certeza, o porquê. Minha primeira teoria seria a chegada de outros meios de comunicação mais imediatos e (em uma análise simplista) menos românticos, como email ou instant messengers. Mas somos prova viva de que a tecnologia não representa o extermínio do amor, muito pelo contrário.

Portanto chego à minha segunda teoria, mais elaborada, afinal sou boa de chutes, e palpite é meu negócio: as cartas de amor terminaram porque conseguimos o que poucos conseguem. Substituímos palavras por ações. Você pode me escrever o que for, declarar o que quiser. Pode me recitar poesias ou me fazer serenatas. Nada vai chegar perto do que você faz todos os dias para mim e por mim. Não há letra de música que possa descrever o que nós temos, por mais perto que possa chegar.

Então, vou guardar de novo as cartas e as lembranças para rever daqui há mais tempo. E não vou ter o impulso de te escrever mais nada além deste texto, só por nostalgia. Vou ser, sim, de frases mais curtas e atitudes mais grandiosas. Vou escrever meus sentimentos (que são cada dia mais intensos, mas, ufa, não tão confusos) nos bilhetinhos deixados de manhã, no beijinho antes de dormir, no eu te amo mil vezes por dia, na saudade enorme que eu sinto no mínimo tempo distantes, no preparo do café. E, principalmente, no cuidado com a nossa vida.

Com amor,

Eu

2 comentários:

Anônimo disse...

Atualización, per favore.

Paty disse...

A Palpiteira não tem frequência...